
Elegia desesperada
Alguém que me falasse do mistério do Amor
Na sombra - alguém; alguém que me mentisse
Em sorrisos, enquanto morriam os rios, enquanto morriam
As aves do céu! e mais que nunca
No fundo da carne o sonho rompeu um claustro frio
Onde as lúcidas irmãs na branca loucura das auroras
Rezam e choram e velam o cadáver gelado do sol!
Alguém que me beijasse e me fizesse estacar
No meu caminho - alguém! - as torres ermas
Mais altas que a lua, onde dormem as virgens
Nuas, as nádegas crispadas no desejo
Impossível dos homens - ah! deitariam a sua maldição!
Ninguém... nem tu, andorinha, que para seres minha
Foste mulher alta, escura e de mãos longas...
Revesti-me de paz? - não mais se me fecharão as chagas
Ao beijo ardente dos ideais - perdi-me
De paz! sou rei, sou árvore
No plácido país do Outono; sou irmão da névoa
Ondulante, sou ilha no gelo, apaziguada!
E no entanto, se eu tivesse ouvido em meu silêncio uma voz
De dor, uma simples voz de dor... mas! fecharam-me
As portas, sentaram-se todos à mesa e beberam o vinho
Das alegrias e penas da vida (e eu só tive a lua
Lívida, a lésbica que me poluiu da sua eterna
Insensível polução ...). Gritarei a Deus? - ai dos homens!
Aos homens? - ai de mim! Cantarei
Os fatais hinos da redenção? Morra Deus
Envolto em música! - e que se abracem
As montanhas do mundo para apagar o rasto do poeta!
*
E o homem vazio se atira para o esforço desconhecido
Impassível. A treva amarga o vento. No silêncio
Troa invisível o tantã das tribos bárbaras
E descem os rios loucos para a imaginação humana.
Do céu se desprende a face maravilhosa de Canópus
Para o muito fundo da noite... - e um grito cresce desorientado
Um grito de virgem que arde... - na copa dos pinheiros
Nem um piar de pássaro, nem uma visão consoladora da lua.
É o instante em que o medo poderia ser para sempre
Em que as planícies se ausentam e deixam as entranhas cruas da terra
Para as montanhas, a imagem do homem crispado, correndo
É a visão do próprio desespero perdido na própria imobilidade.
Ele traz em si mesmo a maior das doenças
Sobre o seu rosto de pedra os olhos são órbitas brancas
À sua passagem as sensitivas se fecham apavoradas
E as árvores se calam e tremem convulsas de frio.
O próprio bem tem nele a máscara do gelo
E o seu crime é cruel, lúcido e sem paixão
Ele mata a avezinha só porque a viu voando
E queima florestas inteiras para aquecer as mãos.
Seu olhar que rouba às estrelas belezas recônditas
Debruça-se às vezes sobre a borda negra dos penhascos
E seu ouvido agudo escuta longamente
As
E se acontece encontrar em seu fatal caminho
Essas imprudentes meninas que costumam perder-se nos bosques
Ele as apaixona de amor e as leva e as sevicia
E as lança depois ao veneno das víboras ferozes.
Seu nome é terrível. Se ele o grita silenciosamente
Deus se perde de horror e se destrói no céu.
Desespero! Desespero! Porta fechada ao mal
Loucura do bem, desespero, criador de anjos!
Vinicius de Moraes
4 comentários:
Oi, Pricila!
Vim trazer um presente para você.
Compartilhei com seu blog um selinho que recebi.
Passa no “Doce Como a Chuva” para buscar este presente.
Bom final de semana!
Abraço
Olá,
Agradeço sua visita e por me seguir no blog.
Fiquei muito feliz.
Parabéns pelos dons artístics e pelo blog.
Sucesso!
Um grande abraço,
Luiza
Bom dia
Tive muito gosto em revê-la e agradeço a visita ao meu espaço o qual agora tem estado algo parado pois o tempo é muito escasso para blogar e principalmente para actualizar as visitas de quem me visita. No entanto, faço os possíveis para ir tentando sempre que possível tirar uns minutos para o efeito.
Aproveitei para relembrar as suas coisas e felicitá-la especialmente por ainda ter avô. Eu perdi o materno aos dois anos e o paterno nunca o conheci. Quanto a mim quem tem esse privilégio deve aproveitar todos os momentos que possa para interagir com os seus ascendentes pois foram eles a origem da família que hoje constituímos. Muitas pessoas não dão o devido valor aos avós e mesmo pais. Existe muito a cultura do se é velho é posto a um canto à espera que chegue o seu dia. Felizmente ainda há alguns e esperemos que sejam muitos que são respeitados. Eu adoraria ter avós e pais pois sinto que muita coisa ficou por dizer e muitas conversas que poderíamos ter tido. Hoje que tenho disponibilidade não tenho a oportunidade de partilhar a velhice de nenhum deles.
Falando de outras coisas, felicito-a pelas fotos das festas com os bois pois deve ser espantoso ver ao vivo tais cenas.
Daqui lhe desejo uma boa semana e aos seus e sempre que puder apareça.Eu tentarei ser mais assídua.
Isabel Tiago
Asas passei para conhecer seu blog ele é not°10
, show, espetacular desejo muito sucesso em sua caminhada e objetivo no seu Hiper blog e que DEUS ilumine seus caminhos e da sua família
Um grande abraço e tudo de bom
Ass:Rodrigo Rocha
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